sexta-feira, 17 de outubro de 2008



Estou com uma voz sensual. Sim, sempre achei sensualíssimo estar com aquela voz de quem acorda, aquela voz que só uma boa gripe lhe dá. Amanhã a minha completa aniversário, uma semana. Já passei, creio, por todos os estágios possíveis. Confundi com rinite, aceitei minha má sorte – gripe, quis minha cama, fiz dengo, manha (o que quiser chamar), pedi carinho, rejeitei a medicação, fui mais mãe que filha querendo ser somente filha, me conformei, acreditei estar melhor, me joguei na cama, fiz chá, dormi cedo, tomei banho demorado. Não teve jeito ela está me vencendo.

Mas, tem o lado bom. A voz sensual. A voz que canta e encanta. Também tem os olhos pequenininhos que gosto. E tem aquela sensação do banho: depois da água quente, a cama, o sono e o sonho e acordar com a sensação que se dormiu bem e que quer esticar mais cinco minutos. E hoje se pode.

É estar doente me traz muitas sensações gostosas. Minha vida inteira briguei com minha mãe, nunca conseguimos conversar, ela nunca me entendeu e eu nunca a aceitei. Mas todas as vezes que estive precisando de cama, ela foi além da farmácia. Cuidou, amou, protegeu, mimou. Ganhei sopa na cama e suco de laranja e sempre que estava um pouco melhor ela fazia a comida que mais gosto. Não se importava em acordar as 3h da manhã ou as 5h, ela ouvia minha tosse do outro quarto (hoje tenho para mim que nestas noites ela nunca dormia), bastava o menor movimento de desconforto e ela estava lá ao meu lado, segurou minha mão todas as vezes que precisei tirar sangue (inclusive durante minha gestação) sabia que eu desmaiaria sozinha, limpou as visitas do ‘Hugo’ sem nunca reclamar, fez chá de madrugada e ajeitou os travesseiros pelas minhas eternas crises de falta de ar, ficou ao meu lado até cada soro acabar, me perguntava a cada 15 min como me sentia, e a cada outros 15 insistia que eu devia me alimentar melhor.

Minha mãe foi eternamente uma super mãe. Com todos os defeitos que tem, com todas as adversidades que encontramos. Quando estávamos longe e eu ficava mal ela se preocupava, ligava, mandava alguém conhecido ir ver como estava, me dava dicas. Nunca me deixou na mão. Mas, eu do meu lado filha demais sempre a tive perto demais para enxergar a importância de tudo isso.

Eu sei que hoje preciso crescer, que hoje sou mãe em primeiro lugar, que chegou a hora de fazer a minha própria sopa (e a fiz, como cuidei do Hugo sozinha na madrugada). Mas, ela me faz uma falta. O zelo, o carinho, a proteção excessiva. E mesmo quando discordava dos começos, no fim esteve ao meu lado. Acordou cada madrugada que passei de pé nos dois últimos meses para chegada do Bernardo. Decidi muito mais a cesárea por não agüentar mais vê-la andando atrás de mim no escuro pela casa e dizendo: “Schali, ta contando direito as contrações?” e sempre seguido de um “tem certeza?” e no fim “olha vamos pro hospital, vai que é a hora”. “Mãe, não é. Faltam semanas!”

Eu sei que se morássemos juntas ainda não nos entenderíamos e sei que está magoada comigo, que sente falta do Bê, porque também foi a melhor vó que ele ganhou. A vó que mais me ajudou a cuidar propriamente dele, que não teve nojo de fralda suja, que não se importou de dar banho, de fazer mamadeira, que acordou de madrugada para ficar com o pequeno quando eu tinha que acordar as 6h porque ia trabalhar, e tinha o Bê e tinha a universidade e sabia que a próxima noite ia ser longa. Infelizmente foi o excesso de tudo isso que também nos afastou. Me obriguei a cortar muitos laços para crescer, e crescer como já dizia alguém, dói. E dói imensamente.
Essa sensação de dar colo, em vez de receber. De cuidar, a ser cuidada. De fazer, no lugar de ter tudo feito. Ah! Me rouba um tanto o chão ainda. Sei e sabemos quantas coisas piores aconteceram e quantas coisas boas estão acontecendo, mas um colo de mãe não cairia nada mal essa semana.

Queria um dia só, dez minutos que fossem para chorar um pouco. Me exclamar do corpo dolorido, da febre, daquela infeliz sensação de suor frio que parece que vou desfalecer. E queria sentar na cama depois do banho no meu melhor pijama cor-de-rosa ursinho e esperar ela aparecer na porta encostar as mãos sempre do mesmo jeito e perguntar se preciso de alguma coisa, ao que responderia: quero chá com bolacha maria e gotinhas de bálsamo branco, depois a mãe pode sentar aqui nos meus pés mais um pouco que eu mudo de lado para ganhar cafuné!

Se eu nunca disse o suficiente: EU te AmO mamãe!!

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei! demorei pra ler, mas gostei! sim fiquei pensando msm das vzs em que vc ficou doente e até quando esteje grávida. Acho que no fundo vc deveria dar um jeito da sua manhe saber dessas coisas, msm que aja o ressentimento ela ficaria feliz em saber (mesmo que escondida!). Ah pois é crescer dói, e as vzs ser mãe, como a mãe da gente é dá medo...Mas vejo que vc está se saindo bem, não só com o Be, mas para vc também (=
te amo s2

Schali Loureiro disse...

Pois eh..eu sei, não sei como, mas sei. heheheh

Idem s2! Te amo te amo!