segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O que não entendo




Perdi poucas pessoas próximas, e quando as perdi ainda não entendia muito.
De repente são tantas querendo ir.
E tudo é tão complexo.
Uma tia, que escrevia um livro, que nem sei se foi publicado e não tive a chance de dizer tchau.
Um tio agora, que não sei o que vai acontecer. Mas, vejo o sofrimento dos outros, a dor. A dor que isso traz e é tão complexo.
Uma prima, com filhas pequenas.
Essa não seria a época errada?
Mas, a morte tem o momento certo?
Não é sempre o momento errado?

Eu aqui, ainda, tentando viver, aos tropeços, tentando acertar, tentando ser mais tolerante com o marido, mais amavél com a sogra, mais paciente com o filho, mais carinhosa com a família com quem já briguei tanto e durante tanto tempo.
Eu aqui errando tanto ainda, super valorizando a roupa na máquina, o chão por varrer, as horas intermenaveis no computador.
O que vale a pena?

A irmã separando. E eu que acabei de casar. A dor por ela, dor da perda.
A dor que entendo.
A perda do sonho do fim da faculdade.
A perda da adolescência prematura com a chegada do filho não planejado. Os medos, o medo de nunca formar família, de nunca conseguir a liberdade, de ser prisioneira de um momento bobo.

Mas, Deus na Sua bondade infinita me deu quase tudo - o marido, o melhor que poderia ter, a sogra - a melhor também, o sogro - idem. E os pais que também o melhor que puderam ser e me deram o melhor que podiam dar - me deram a chance de sentir. Me ensinaram a sentir e a respeitar o que sinto, o que os outros sentem.

Mas, não sei lidar com a dor.
Queria colocar a dor na ferida da irmã, queria dizer pra ela que alguém melhor vai aparecer, que os filhos vão ama-la por tudo que está fazendo sozinha, que ela pode ser mais feliz, pode ser melhor assim.
Mas, não me sinto no direito de cutucar a ferida.

A dor da perda. A dor do que não entendo.

"Sou humano demais para compreender, humano demais para entender"
(Pde Fábio de Melo)