sábado, 27 de fevereiro de 2016

Gravura



Não foram muitas as vezes em que tive a oportunidade de caminhar pela Beira Rio, mas sempre que penso em Itajaí me vêm a mente a mesma cena. Calçada da Beira Rio, o som da água, o vento e os barquinhos na encosta flutuando com o balanço da maré. O vento como a música que embala o barco, o par perfeito para o mar.
Meio dia, minutos vagos e o sol a pino refletido na água que balança os barquinhos da encosta. Final de tarde, pôr do sol e os raios refletidos na água, os mesmos barcos, o mesmo balanço. O negro da noite interrompido pelos raios do luar e mais uma vez todos os barquinhos em sintonia navegando ancorados no mesmo mar.
E para cada hora, uma música. Final do dia, os barquinhos parecem dançar Temporada das Flores, de Leoni, ao anoitecer os vejo sibilar Noites com Sol ao som de Flávio Venturini. No almoço não precisa de canção. As gaivotas planando na água dão o som necessário à paisagem.
Poderia escrever sobre os cheiros do Mercado Público, sobre o movimento da Hercílio Luz ou sobre todas as luzes da Matriz. Sobre o silêncio da Praça da Igrejinha em que um dia sonhei casar. Mas, tudo é pouco, porque o quadro que minha memória guarda para a palavra Itajaí são os barquinhos navegando na Beira Rio.
Dependendo do dia eu poderia cantarolar até Farol dos Afogados, se estivesse triste. Mas, no fundo só penso em paixão quando estou ali. Quando por lá minha imaginação passeia parece que todos os dias vagam naquelas calçadas. Parece que moro nesta cidade todas as horas. Parece que anseio em estar aqui e por isso valem todos os sacrifícios.
Ali no leste o sol nasce todas as manhãs e ilumina meus barquinhos. Cada barco um sonho, uma sensação, um friozinho na barriga. Cada balanço, um passo. E toda a cidade cabe nesta gravura.


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