Demorei
tanto para escrever sobre isso, nem sei ao certo se realmente estou pronta.
Escrever e
encarar é tornar real. E dói.
A vontade é
voltar no tempo, nunca ter ido para longe, nunca ter lhe decepcionado, lhe
feito sofrer. Ter obedecido sempre, ter ajudado mais, ter estado mais presente.
Ter lhe dado mais ouvidos.
Ter te
abraçado mais uma vez. Na lembrança o último tchau, o último beijo e suas mãos
já brancas demais, frias demais, pro calor que você sempre nos transmitiu.
Seu último
pedido – Cuida do Bê, cuida da Júlia.
Cuida do Bê.
Queria ter
levado ele ao hospital, mas não era permitido. Queria ter lhe permitido
abraçá-lo a última vez.
Ah mãe...
queria tanto ter –lhe aqui mais algumas horas.
Não dá pra
entrar no seu quarto sem deitar ao seu lado para ver TV. Não dá para entrar na
sala sem sentir seu cheiro ou mesmo no seu banheiro.
Não dá para
não esperar ouvir o som da sua voz, aquele comentário, aquela palavra que só
viria de ti.
Quem vai
estar comigo no parto agora? Se era você quem andava atrás de mim pela casa nas
vésperas do Bernardo nascer. E quem vai trazer o chá com bolacha e se preocupar
comigo?
Mãe, quem
vai fazer sopa de agnholini no inverno? E chá de erva mate aos sábados?
Para quem eu
vou correr, quando o mundo me der as costas?
Mããe... quem
vai segurar as pontas quando tudo desabar? E quem vai decidir o que fazer no
Natal e Ano Novo?
Como vamos
comemorar qualquer coisa daqui por diante, se era você nosso alicerce para
tudo?
Quem eu vou
chamar de mãe? Quem vai brigar por mim com unhas e dentes até contra mim mesma?
Se teu amor nunca vai ser igualado??
Talvez eu
seja egoísta demais, pensando somente na falta que me faz. Não pense que não
considero tua dor, e sim, não queríamos lhe ver sofrer mais. Você foi tão
forte, tão brava, tão guerreira.
Sei que ao
te ver no hospital, entreguei nas mãos de Deus para que Ele fizesse a vontade
d’Ele, que fizesse o que fosse melhor para ti. Mas, no fundo queríamos que fosse
eternas, porque parece que foste tão cedo.
Sei, sei que
foram 70 árduos anos, um casamento de quase 53 anos, 10 filhos, 9 netos, uma
vida de trabalho e dedicação a família. Mas, é justamente por toda essa dedicação
que ficou todo esse vazio. Éramos no fundo todos dependentes de ti, da tua
força, do teu exemplo e isso nos movia em frente. Agora pela primeira vez,
mesmo todos adultos temos que andar sozinhos. E nem o pai sabe fazer isso.
Consola
saber que tudo isso te levou para um lugar lindo, sei que não mereces menos que
o céu e que lá tens trabalho também, não és de ficar parada, não é mesmo?
Deves estar
ajudando e encontrando muita gente querida.
Olha por
nós, para eu não deixar de acordar a noite com a sensação de que ainda velas
meu sono.