sexta-feira, 11 de maio de 2012

Mãe...




Demorei tanto para escrever sobre isso, nem sei ao certo se realmente estou pronta.
Escrever e encarar é tornar real. E dói.
A vontade é voltar no tempo, nunca ter ido para longe, nunca ter lhe decepcionado, lhe feito sofrer. Ter obedecido sempre, ter ajudado mais, ter estado mais presente. Ter lhe dado mais ouvidos.
Ter te abraçado mais uma vez. Na lembrança o último tchau, o último beijo e suas mãos já brancas demais, frias demais, pro calor que você sempre nos transmitiu.
Seu último pedido – Cuida do Bê, cuida da Júlia.
Cuida do Bê.
Queria ter levado ele ao hospital, mas não era permitido. Queria ter lhe permitido abraçá-lo a última vez.
Ah mãe... queria tanto ter –lhe aqui mais algumas horas.
Não dá pra entrar no seu quarto sem deitar ao seu lado para ver TV. Não dá para entrar na sala sem sentir seu cheiro ou mesmo no seu banheiro.
Não dá para não esperar ouvir o som da sua voz, aquele comentário, aquela palavra que só viria de ti.
Quem vai estar comigo no parto agora? Se era você quem andava atrás de mim pela casa nas vésperas do Bernardo nascer. E quem vai trazer o chá com bolacha e se preocupar comigo?
Mãe, quem vai fazer sopa de agnholini no inverno? E chá de erva mate aos sábados?
Para quem eu vou correr, quando o mundo me der as costas?
Mããe... quem vai segurar as pontas quando tudo desabar? E quem vai decidir o que fazer no Natal e Ano Novo?
Como vamos comemorar qualquer coisa daqui por diante, se era você nosso alicerce para tudo?
Quem eu vou chamar de mãe? Quem vai brigar por mim com unhas e dentes até contra mim mesma? Se teu amor nunca vai ser igualado??
Talvez eu seja egoísta demais, pensando somente na falta que me faz. Não pense que não considero tua dor, e sim, não queríamos lhe ver sofrer mais. Você foi tão forte, tão brava, tão guerreira.
Sei que ao te ver no hospital, entreguei nas mãos de Deus para que Ele fizesse a vontade d’Ele, que fizesse o que fosse melhor para ti. Mas, no fundo queríamos que fosse eternas, porque parece que foste tão cedo.
Sei, sei que foram 70 árduos anos, um casamento de quase 53 anos, 10 filhos, 9 netos, uma vida de trabalho e dedicação a família. Mas, é justamente por toda essa dedicação que ficou todo esse vazio. Éramos no fundo todos dependentes de ti, da tua força, do teu exemplo e isso nos movia em frente. Agora pela primeira vez, mesmo todos adultos temos que andar sozinhos. E nem o pai sabe fazer isso.
Consola saber que tudo isso te levou para um lugar lindo, sei que não mereces menos que o céu e que lá tens trabalho também, não és de ficar parada, não é mesmo?
Deves estar ajudando e encontrando muita gente querida.
Olha por nós, para eu não deixar de acordar a noite com a sensação de que ainda velas meu sono.